Mais um autocarro, mais uma viagem. Cumpridas
as seis horinhas de praxe, eis-nos em Siem Reap, novamente rodeados de tuk tuks
prontos para nos levar ao hotel. Fizemos a melhor das escolhas (o rapaz haveria
de se mostrar super prestável em todo o dia seguinte), mas achamos que ele
ficou mais contente de nos levar a nós que outra coisa. É que não é todos os
dias que se transporta esses seres afortunados que vêm do país do Cristiano
Ronaldo. Oh rapaz, pára lá com as vénias e o beijar de mãos que o Daniel estava
a brincar quando disse que era primo do CR7...
Assim foi no hotel, onde fomos atacados com
um serviço irrepreensível. Mais atenciosos era difícil, justificando bem o prémio
do TripAdvisor deste anos.
Mas isto é e tem sido sempre a andar (só
faltam mesmo dois dias?) e a verdade é que havia um estômago para alimentar. O
tuk tuk deixou-nos no centro, na zona dos bares e restaurantes, um sítio
animado, bem disposto e cheio de turistas a passear. Agradável nas sensações e
bonito ao olhar.
Mais crianças a vender souvenirs, outras a
pedir dinheiro, crianças com crianças ao colo e, em contraste, uma menina
divertida, que também vendia nas ruas, a revelar-se já amiga de todos os turistas
e que se divertia na conversa com eles. Já merecias que te comprasse qualquer
coisa, só pelo “Thank you! I don’t work here, but I like you to come!”. Um
impressionante nível de inglês, até para a idade. Aliás, por aqui não faltam
escolas internacionais, não surpreendendo, por isso, que grande parte das
pessoas saiba falar bem o inglês (mesmo que continuem a dizer “apter”...).
É bom saber que sabem dizer mais do que “want
to buy something?” ou “massage lady?”, que foi o que mais ouvimos no pequeno passeio
que demos até ao Night Market, um mercado que, apesar do número de mosquitos,
apresenta-se mais agradável do que o que vimos até agora. Aqui não há comida, o
que facilita a respiração, apenas souvenirs e massagens, num ambiente dos bons.
Mas a cidade não tem muito mais e talvez até
seja melhor assim. Afinal quem ali pára é atraído pelos muitos templos,
sobreviventes do império Khmer. Nós por cá, resolvemos seguir a tradição e
levantámo-nos às 4 da manhã para ir assistir ao nascer do sol junto ao imponente
Angkor Wat. Parece anedota, eu sei, foi o que nós pensámos quando saímos para a
rua deserta ainda de noite: “olha que dois tolinhos!”.
Mas! Não eram apenas dois. Ao aproximar do
local, começaram a ser dezenas os tolinhos, depois centenas os tolinhos
acordados àquela hora. Parecíamos todos membros de uma seita a dirigir-se para
um ritual secreto. Sim, faço muitos filmes quando não durmo.
Chegados à frente do monumento, havia que
lutar por encontrar um bom lugar e por desviar das inúmeras câmaras, smartphones
e iPads já em posição estratégica e em testes. Mas o que é isto...? Pá, vão ao
Google buscar fotos, são iguais.
Durante meia hora, o sol lá vai fazendo
desenhos de luz por trás do templo e nós percebemos que, afinal, essa coisa do
madrugar faz sentido. É um espetáculo digno dos 20 dólares que se deixam à
entrada, mesmo que eu continue a achar que isto de taxar a natureza...meh. Esta
gente é muito esperta, faz dinheiro de tudo. E o momento ganha outra dimensão quando se ouvem as rezas matinas dos monges lá bem ao longe. Fomos atrás do som e demos por nós num templo com os monges a fazer a sua única refeição do dia, ao som de uma chinfrineira monumental. Aquela música naquele tom acorda até as pedras do Angkor Wat, credo! Bela aparelhagem têm eles.
A ideia do roteiro aos templos de Angkor é
passar pelos restantes edifícios. Não fomos a todos porque são mais do que as
mães, mas explorámos ao máximo o Angkor Wat, o espaço de Angkor Thom e o templo
do Tom Raider, o Ta Phrom, com as árvores a crescer por cima das ruínas.
Em todos os templos, encontrámos monges
budistas que, com pequenos rituais, colocavam pulseiras benzidas nos pulsos dos
turistas que os descobriam. Diz que é para dar boa sorte, mas eu cá duvido que
vá resultar comigo. É que a pulseira pressupõe um donativo em troca, que demos
ao primeiro monge, mas que já não demos ao segundo, que me apanhou de surpresa,
pôs-me um pauzinho de incenso nas mãos e já me estava a benzer a pulseira
quando lhe disse que não tinha dinheiro comigo (é verdade!). Cheira-me que esta
pulseira vem mas é com uma praga associada em vez de boa sorte.
Superstições à parte, é uma visita que vale
bem a pena pela dimensão, envolvência e beleza dos templos. Mas, realmente,
quem descobriu o nascer do sol em Angkor Wat soube vender muito bem a ideia. E
ainda bem que a chuva (dilúvio!) tinha parado umas horas antes . já nos basta
os pés nas poças e o frio matinal para ficarmos doentes.
Ainda atordoados com tanta agitação e ainda
não é meio dia, fomos de tuk tuk até às aldeias flutuantes. Ficavam no fim do
mundo, e era preciso atravessar uma estrada com mais buracos que um queijo
suíço. Nossa, que viagem doida! Que dor nos rins! Que cabeçada!
A ideia que nos foi vendida foi que, por 20
dólares, andaríamos uma hora e meia de barco por entre as vilas e o mercado.
Mas, a bem dizer, foram só uns 30/40 minutos, sem mercado e com uma passeio
muito ao de longe por uma única vila. Bela fraude, que nos deixou frustrados e
furiosos. Eu até cheguei a adormecer duas vezes. Num barco, imagine-se!
Achamos que o guia não gostou do facto de não
querermos ir ao mercado comunitário ajudar, com alimentação, as crianças órfãs
devido aos muitos tufões que assolam a zona todos os anos (o próprio pai dele
tinha morrido num tufão).
Claro que não adianta fazer queixa porque
eles põem-se a falar entre eles, nós não apanhamos uma e ainda sentimos que
somos gozados. É a terra deles, as leis e regras deles. O turista que se
sujeite. Enfim, é esquecer.
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ResponderExcluirOutro mundo..... "Verdadeiramente Louco "
ResponderExcluirMundo fantástico... Estive lá há uns anos, é impossível transmitir, em qualquer imagem, por melhor que seja, a sensação que se tem num local como aquele
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