quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Saint Louis – Galomaro – Dulombi - Bissau

Apesar de não termos tido oportunidade de andar a dar umas voltas pela pequena Saint-Louis, há duas certezas que nos acompanham: primeiro, a bela da vila piscatória seria um fartote de belas fotografias, estivesse o fotógrafo nos melhores dias. Segundo, as senegalesas são super jeitosas e fazem homens e mulheres virar a cabeça para olhar segunda vez, uns os corpos bamboleante, e outras as cores inebriantes das vestimentas. Isto também é África.

Na viagem de regresso da seca que apanhámos por causa dos vistos, o taxista explicou-nos que o bairro onde ficava o parque de campismo era o mais carismático e popular da África Ocidental. E nem precisava. São centenas de pessoas na margem do rio, entre pescadores, ajudantes, curiosos e crianças em festa constante. Segundo o taxista, as casas funcionam no sistema de rotação: enquanto uns trabalham de madrugada, outros ficam a dormir e revezam-se ao longo do dia.

Infelizmente, a nossa estadia nesta bonita cidade ficou-se pelo parque de campismo a cuidar do Daniel. Como já disse, deixámos o parque ao final da tarde do segundo dia no Senegal de forma a evitar o calor da viagem. Mas impossível foi evitar os milhares de buracos da estrada. Fomos avisados de que este seria o pior trajeto, mas com malária a coisa triplica de dificuldade.

Foi uma noite a fugir de buracos maiores que a dívida nacional e lombas do tamanho do Everest. Um verdadeiro teste de resistência para toda a gente que, apesar de tudo, ainda valeu algumas gargalhadas. Claro que de manhã a pedrada era enorme. Pequeno almoço improvisado debaixo de um mini telhado de palha, paragem para dar conta da saída do Senegal (pois, para sairmos é sempre a andar, não é?) e finalmente se ouve o belo do português. Sim, senhor guarda, vimos de Portugal, somos irmãos e tal, mas, não, não somos ricos. "Portugal é sempre mais rico". Ui, que as notícias não chegam à Guiné…




Como já contei, a viagem até Galomaro ainda demorou bastante e só lá chegámos à noite, depois de uma paragem para jantar em Bafatá. A propósito, este país é mais húmido que todos os anteriores, dá aquela bela sensação de respirar água. Hummm…

Mesmo sem se ver um palmo à frente, a chegada à casa do chefe da aldeia, a quem ocupámos alpendre, jardim, casa de banho e água do poço para banhos e cozinha, foi uma festa para toda a gente. Ali, moram umas 20 pessoas entre mulheres, filhos, sobrinhos e afins, segundo o lema de que, independentemente de tudo, temos que tomar conta dos nossos.

Aqui, com algum esforço, o Daniel pôde distribuir algumas das fotografias que tirou no ano passado, voltar ao hospital, à casa da Domingas (aqui, a Coca-Cola não tem o mesmo sabor, mas, fresquinha, sabe à última Coca-Cola do deserto) e ao pequeno Mala, o traquinas cá do sítio, de sorriso tímido de início, mas contagiante com a confiança.


Ainda foi visto pelo médico de serviço, fez análises com o médico a chupar o sangue dele das veias para um tubo de ensaio (é bom que tenhamos noção destas condições quando nos armarmos em esquisitos seja com o que for) e, além depois de tratada a malária, o Daniel descobriu princípios de anemia e uma bactéria no sangue. Não há fome que não venha em fartura.

Em Galomaro, apenas tivemos tempo para montar uma cerca à volta da casa do régulo (o chefe) e visitar o hospital e a escola primária, onde deixámos alguns bens. Porque com o Daniel assim tão fraco não havia outra coisa a fazer senão antecipar o regresso a Portugal. Só precisávamos de ir a Dulombi cumprir o objetivo e seguir para Bissau.


Dulombi é uma aldeia muito mais pobre que Galomaro. Mais pobre nas casas, nas ruas, no comércio (acho que há uma padaria e mais nada), mas, essencialmente, nas pessoas. Os sorrisos que vimos em Galomaro não chegam aqui e a missão do pessoal que foi connosco é dar às crianças uma creche junto à escola, construindo-a do zero. Infelizmente, nós não pudemos participar desta parte do projeto.

A aldeia reuniu-se em volta da fotografia que o Daniel levou para que seja colocada na escola dos miúdos e facilmente conseguimos encontrar a maior parte dos craques fotografados, com os quais fomos até ao campo para registar o momento. Depois, cada um levou uma cópia da imagem premiada, quase que como agradecimento.



No pouco tempo que ali ficámos, o Daniel ainda conseguiu fazer um trabalho com a população, retratando-os em fundo negro, numa mistura de tonalidades que, na minha opinião, deu um resultado impressionante. Quase uma semana depois, o homem voltou a pegar na máquina para fazer um pouquinho de magia.





Depois do almoço, partimos para Bissau para, no dia seguinte, apanharmos o avião para Portugal. Bissau é uma cidade demasiado caótica para ser vivida com tanto calor e humidade. Mas a verdade é que também não lhe demos muito tempo de passeio porque o Daniel ainda aguenta poucas horas de azáfama e continua a precisar de descansar (toda a gente diz que é o remédio mais eficaz para curar a malária).
Apanhámos os belos dos mini autocarros da cidade, cheios de gente e fomos apenas visitar um pequeno mercado de artesanato, onde nos perdemos na conversa com uns mestres da escultura de madeira. Uns artistas. Da tensão de que falam as notícias, nada vimos, mas sabemos que a cidade está em polvorosa com greves, ataques violentos, raptos de crianças e afins.






A ver se o rapaz recupera para aguentar mais uma viagem, tivemos mesmo que ficar pelo hotel (há quanto tempo não víamos uma sanita a sério?), valendo as belas das refeições que por ali fizemos. E na memória levamos também um micro aeroporto com portas de check-in "abandalhadas" e polícias que querem armar problemas com o tripé do Daniel mas acabam por ficar satisfeitos com um belo de um autógrafo na fotografia que toda a gente viu na televisão.

Guiné-Bissau, havemos de nos ver mais vezes. Sejam as condições mais propícias.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Malária

Depois de uns dias com dores de cabeça e uns espirros, na manhã da partida para o Senegal o Daniel acordou a dizer que lhe doía o corpo todo, como se tivesse sido atropelado por um camião. Nada de anormal, talvez todos nos estivéssemos a sentir assim depois de tantas horas de estrada e noites em tendas.

Mas, ao longo do dia, as dores não passaram e o desconforto foi uma constante. Fez a maior parte da viagem deitado, que era como se sentia menos mal, e só tirou uma ou duas fotos, no Parque Natural de Dwaling. Foi quando percebeu que nem forças tinha para pegar na máquina.

Mau! O rapaz só não tira fotos quando dá cabo do material ou quando está mesmo mal. Passado o parque, começam os enjoos. Até pensei que se deviam ao cheiro que ficou por termos dado boleia a uns homens até à fronteira, mas eles não cessaram com o ar mais fresco.

Já nas horas de desespero passadas para entrar no Senegal, percebi que ele tinha apagado e estava com febre. Acho que vamos ter que ir a um médico… Finalmente chegados ao parque de campismo, e porque já toda a gente percebeu que o Daniel não estava bem e o termómetro marcava 39º, deixaram-no ficar na parte do hotel, para que pudesse dormir numa cama decente.

Mas, depois de deitado na cama, ele pergunta-me onde está e, assim, com delírios, não restam muitas dúvidas. Ninguém pronuncia a palavra – quase para não atrair – mas é urgente levá-lo ao hospital…já! O hospital era uma clínica privada e o médico não estava, foi preciso ir buscá-lo a casa. O Daniel continuava a delirar e podem perguntar-lhe o que se passou que ele só se vai lembrar de ter falado com o médico, mesmo que não saiba o que lhe disse.

O homem nem precisou de lhe fazer o teste da gota espessa: viu-lhe os olhos, a pressão e apalpou a barriga. Sentou-se à secretária e falou como quem tem aquele discurso decorado há anos e o repete todos os dias. Receitou uns quantos comprimidos para tomar, mas, essencialmente, a cura é beber muitos líquidos e descansar o corpo ao máximo.

Sim, o Daniel apanhou malária e, na verdade, a palavra assusta um bocado. Todos acreditamos que ele foi medicado a tempo, mas o raio da doença paira por estes lados como um fantasma. A mim, essencialmente, fez-me confusão a forma como as pessoas iam olhando para ele. Até porque os comprimidos começaram a fazer efeito rapidamente e a cor foi-lhe voltando à cara. Mas parecia que tinha "malária" escrito na testa. Toda a gente de lá percebeu logo. Deve ser a força do hábito.

Os dias seguintes foram a luta para que os comprimidos – primeiro – ficassem no estômago, e -  depois – fizessem efeito. A febre foi baixando, mas as forças ficaram sempre lá por baixo. Dizem que a malária é uma valente tareia e confirma-se. Durante dois dias, o Daniel ficou-se pelo quarto do hotel porque todas as tentativas para se levantar o deixavam cansado.

Ficou com melhor aspeto, mas, desta vez, atacado da barriga. Veio tudo ao mesmo tempo, graças a deus. Em conversa com um homem de lá, ele contou-nos que já teve malária 25 vezes e que o facto de o Daniel ter sido logo assistido, impedindo que a doença lhe desse mais forte, ia amenizar qualquer ataque da doença daqui para a frente. Ou seja, estará livre de ir parar a uma cama de hospital como acontece à maior parte das pessoas neste continente se perceber logo os sintomas. Respiremos de alívio por agora.

Bom, o médico tinha dito para ele repousar totalmente, mas isto em África tem muito que se lhe diga e, no dia seguinte, tivemos que ir a um posto da fronteira por causa de um problema com os vistos do pessoal. É que só alguns foram recebidos e já que nos podiam sacar mais algum dinheiro, não iam perder a oportunidade.

Foi o verdadeiro martírio para o Daniel: a espera interminável, o calor, o desconforto do lugar, as dores de barriga, a falta de forças, o stress da situação, a hora de viagem. Foi mau, foi mesmo muito mau. E esta gente gosta de inventar novos problemas quando achamos que já estamos livres.

De volta ao hotel, felizmente o Daniel já tinha vontade de comer qualquer coisa, mesmo que seja apenas metade de um pão e um sumo de laranja. É melhor que nada. Por causa de tudo isto, os planos para partir para a Guiné-Bissau na manhã seguinte foram alterados: saímos apenas ao final do dia, com a carrinha transformada em cama, para que o rapaz aguentasse melhor uma viagem de tantas horas, tanto calor e com a pior estrada de sempre.

Aqui vem a questão pertinente: valerá a pena sujeitá-lo a mais este tormento ou mais vale ir já para casa para recuperar como deve ser? A ideia de ele piorar por não descansar fez-me pensar bem na segunda hipótese. Mas foi para entregar a foto aos miúdos de Dulombi que ali estávamos, por isso, pelo menos isso tinha que ser concretizado. Nem outra coisa passava pela cabeça do Daniel. Seja o que tiver que ser.

Ao terceiro dia, as forças eram cada vez maiores, mas sem abusos. Aqueles buracos na estrada não ajudam ninguém e o estado do rapaz continua a ser uma preocupação constante. Mas se está calor lá fora, dentro da carrinha parada está ainda pior. Não está fácil… e os ânimos não são, obviamente, os melhores. Felizmente, a fronteira na Guiné-Bissau é a que causa menos problemas. Quer dizer, pelo menos é a que nos retém menos tempo.

É que os problemas vieram depois, por causa da necessidade ou não de um pass-avant (o que permite a circulação dos carros no país) que uns dizem já não existir e nos é pedido mais à frente. Pedido é elogio, porque o homem estava mais mal disposto que um touro enraivecido e não nos deixou sair dali durante umas longas e desesperantes horas. É que nem o facto de levarmos um gajo doente valeu de alguma coisa.

Mais de 24 horas depois, chegámos, finalmente, a Galomaro, a aldeia onde ficámos "alojados" na Guiné-Bissau. Valeu a receção efusiva da população, a alegria das crianças que não nos largaram enquanto não as deixámos ajudar-nos com as tendas e o reencontro do Daniel com o pequeno Mala, um miúdo com o qual ele se ligou muito na primeira viagem.


Agora é tempo de descansar sem solavancos. Eis a explicação do porquê de este post vir sem fotografias. Há coisas mais importantes.

sábado, 16 de novembro de 2013

Tan Tan - Dakhla – Nouadhibou – Nouakchott – Saint-Louis


Eis-nos acordados mais uma vez super cedo e, desta vez, para um belo banho de água gelada. Nada que o hábito não amacie. O primeiro ponto para contemplação dos olhinhos foi o Atlas, a gigante cordilheira de Marrocos, com montes e vales imensos, onde até neve cai (sim, que o deserto, quando quer, é frio que dói). Um momento bom para apreciar o silêncio e ter a certeza do nosso tamanho.



Apreciar as imagens que nos acompanham nestes muitos quilómetros tem-nos preenchido a alminha. E compensa o facto de chegarmos aos destinos já a altas horas da noite: vamos vendo tudo pela janela do carro, com paragens para casas de banho estilo caçador no meio do mato, almoços a correr e despejos de água para o radiador antes que uma das carrinhas queime.




Essa noite foi passada a pouco mais de cem quilómetros da entrada do Deserto do Sahara. Dormimos numa falésia, mas a verdade é que só percebemos isso realmente de manhã quando fomos acordados pela neblina e vimos o espetáculo do nascer do sol, rodeados de areia e mar. De camarote. Que se lixe o pormenor de não haver luz ou casa de banho. Qualquer coisa, a duna é a 27 e só é preciso não levantar as pedras para não ter surpresas com escorpiões.





Assim, começámos o nosso périplo pelo deserto. Quilómetros e quilómetros de areia e vegetação, dos quais só despertávamos, como crianças, quando nos atravessavam os camelos à frente ou, claro, quando o sol nasce ou se põe. Esse espetáculo é imperdível por estes lados. E um privilégio.












Mas não se pense que o deserto é sempre essa pasmaceira. O caminho apresenta-nos, aqui e ali, autênticas cidades com o que nelas possamos imaginar (menos ar condicionado, não, isso não há). No entanto, somos obrigados a deixar máquinas fotográficas escondidas porque os militares  não se consideram lá muito fotogénicos. E os militares por estes lados fazem cara realmente de maus.

Numa dessas cidades, parámos para almoçar na cidade onde o Gil Eanes dobrou os marroquinos. O Cabo Bojador tem apenas um pedregulho para assinalar a "proeza", que parece destruído ou inacabado. Só nós mesmos para continuar a viver destas coisas até hoje.











Além de ser uma viagem que requer algum esforço, o ridículo da situação são as centenas de paragens policiais com que nos cruzamos nas estradas. Polícias, militares, malta que não sabe bem o que está ali a fazer, uns que dormem nas casernas, outros que gostam de nos fazer cumprir à risca o protocolo de pára e arranca só quando eu mando. Todos nos obrigam a parar e responder sempre às mesmas perguntas: para onde vamos, de onde vimos, o que levamos; entre outras mais idiotas como como nos chamamos ou se temos pilhas. A autoridade é uma coisa muito alternativa nestes países. O facto de termos 500 folhas com as informações já prontas para entregar tem-nos poupado vários minutos nestes esquemas onde todos são chefes e o querem mostrar. Mesmo que a 200 metros uns dos outros. Ai África, África.

A última cidade onde ficámos em Marrocos foi Dakhla, que deve, como qualquer palavra em árabe, ser pronunciada como se estivéssemos – desculpem-me a comparação – a escarrar. Esta é a cidade africana do kitesurf e a promiscuidade entre deserto e baía faz perceber a existência de tantos hotéis na zona. Já o nosso "hotel" era bem mais modesto, mas pelo menos tinha casa de banho (aguinha fria pela manhã) e peixe frito às 11 da noite que soube pela vida.

O ponto seguinte foi a fronteira entre Marrocos e a Mauritânia, precedida por mais quilómetros e quilómetros de um cenário de cortar a respiração. O Deserto do Sahara é tudo o que dizem dele e deve ser visitado pelo menos uma vez nas curvas da vida. Depois dele, começam os testes à paciência de um santo para atravessar fronteiras em África.





Para sair de Marrocos, há que "picar o ponto" em diversos postos: toda a gente quer ver passaportes, documentos dos carros, conteúdo das viaturas. É preciso contar com umas três paragens pelo menos. Mais o sol das três da tarde. E não é a pior.

Passadas as portas, entramos na "Terra de Ninguém", uns seis quilómetros que separam Marrocos da Mauritânia e que, como se percebe, não pertencem a ninguém, logo, não têm regras. E se um país com regras já é o que é, um pedaço de terra abandonada e esburacada, com carcaças de carros acidentados, minas em lugares desconhecidos e pessoal contratado para fazer "esperas", tem tudo para que não queiramos atravessá-lo. Mas não há hipótese, mais vale não pensar muito que ainda não ganhámos asas.

Finalmente em terras da Mauritânia, senti de novo a chatice de ser branca nestes países: "Hello, nice girl! What's your name? You're very white.". Me-do. E aqui, sim, foram umas belas horas de espera. Mais uns favores e umas prendas e lá seguimos caminho até ao NAD, um orfanato a que a Missão tem dado algum apoio, numa visita de médico.






Já a altas horas da noite, andámos meio perdidos para encontrar o albergue onde íamos dormir: um pequeno espaço com três camas e muito chão onde dormiram dez pessoas (eu e o Daniel preferimos ficar na tenda do que ao molho), mais uma vez, no meio do nada, perto de Nouadhibou. E é preciso contornar os polícias que nos vão parando na estrada a dizer que o albergue mais próximo fica a 140km, que é mais seguro ficarmos ali, onde a família deles tem também um albergue. Espertezas. Vai-nos valendo o céu, que é mais estrelado em África do que em qualquer lugar onde tenhamos alguma vez estado.

Na manhã seguinte, partimos para a capital da Mauritânia, Nouakchott, para percebermos porque é que este é ponto onde começam os alertas do perigo da malária. Mais sujidade e poças de água por toda a cidade era difícil e consciencializar estas pessoas mais ainda. É triste sair daqui com a certeza de que, volte-se as vezes que se voltar, nada terá mudado e a doença continuará a pairar no ar. E ainda ficam a olhar para nós quando nos encharcamos de repelente.



Ainda tivemos que perder imenso tempo no trânsito louco daquela cidade por causa de um selo que um polícia percebeu que não tínhamos. Ali, como em todo o continente africano, um carro de matrícula europeia está tramado e é um dia ganho para as autoridades. Sugam até não poder mais.

A partir daqui começam as estradas esburacadas e não me lembro de terem alguma vez terminado. É que não são pequenos buracos e muitas vezes não há sequer espaço para nos desviarmos. Haja rins! Chegados à fronteira, lá ficámos mais umas belas horas de calor (muito calor!) à espera que alguém fosse a uma outra cidade tratar dos seguros. Estes momentos tornam-se um desafio à nossa criatividade para ocupar o tempo, enquanto a polícia vai procurando droga nos carros e os miúdos vão dando uns toques na bola e fazendo pose para as fotos.

Até chegar ao Senegal, há que atravessar o Parque Natural de Dwaling e regalar as vistas com o verde mais alto dos caminhos até agora, os campos de arroz e os miúdos a cantar, as dezenas de espécies de aves e os javalis que nos atravessam à frente. Tudo brindado com mais um pôr do sol encantador e uma estrada onde nos atrevemos a dar uma de todo-o-terreno. A melhor parte deste dia, com certeza.

Porque à chegada à fronteira para entrar no Senegal, tudo parecia um pesadelo: horas intermináveis, sono, fome, mosquitos, autoridades com o rei na barriga. Só queremos sair daqui, por favor, deixem-se lá de complicar. Pior que tudo: demasiado tempo para chegar a Saint-Louis – cidade onde ficámos – com o Daniel cheio de febre.