Portanto, chegados a esta altura da viagem,
levar com seis horas de autocarro até parece brincadeira. Acho que vou passar a
ir a Lisboa de autocarro e voltar no mesmo dia só para tomar um café uma vez
por semana. Tivemos que vir para o fim do mundo à direita para relativizar esta
coisa das distâncias.
Um pormenor interessante vivemos ainda antes
de chegar ao autocarro. Aliás, no caminho até ele, que percorremos atrás da
menina da agência por entre ruelas labirínticas no meio das casas das pessoas
(como é que se chama os habitantes de Ho Chi Minh?). Quem diria que uma
minúscula entrada numa rua movimentada abrisse caminho a um microcosmos, o
verdadeiro Saigon que nem aparece nos mapas?
Já o belo do autocarro apresenta-se como o
Mekong Express Limousine Bus e é um mimo de decoração. Acho que VIP, em
vietnamita, quer, na verdade, dizer “Vamos Insistir no Parolo”.
Se tirarmos a pausa para almoço num sítio
mais abafado que uma sauna (calor e aqueles cheiros já começa a ser demais,
avisa-me o meu estômago) e a confusão que se pode tornar o passar da fronteira
entre o Vietnam e o Cambodja (a sério que o senhor dos passaportes não soube
dizer o meu nome e acha mais fácil gritar pelo segundo...?), correu tudo sem problemas.
Talvez as costas do Daniel não concordem, mas mais VIP que aquilo é difícil.
Chegados ao Reino do Cambodja, a opinião não
consegue ser muito clara. As dezenas de crianças que, em 10 minutos, chegam
para pedir comida ou vender alguma coisa dá-nos uma ideia de pobreza bem
grande. Mas, logo a seguir, atravessam-se
no caminho carros de alta cilindrada e lojas de conhecidas marcas, assim
como bancos, casinos e casarões. Algo aqui está muito mal distribuído. Faz-me
lembrar outro país qualquer, não me recordo do nome...
De contrastes vive também a paisagem.
Primeiro, ficámos encantados com o verde intenso dos imensos arrozais ao longo
da estrada. Oh senhor motorista, já que não vai parar só um bocadinho para
tiramos umas fotos, podia pelo menos ter limpo os vidros do autocarro, não?
No entanto, ao entrar na cidade, vem o lixo, a confusão e a poeira que a chuva que cai sem brincadeira já transformou em lama. Vamos ver para que lado pesa a balança no final.
Ah se tivéssemos uma balança no momento em
que deixámos o autocarro era para atirar à cabeça dos motoristas dos tuk tuks.
Dos quatro países por onde passámos, estes levam o prémio de mais chatos. Com
todo o respeito, mas ter uns dez à minha volta a repetir “Hello”, “Lady”, “Tuk
tuk”, “City center” ou “Killing Fields” à exaustão é de ficar doida. Pessoal,
nós só chegámos há dois minutos, mal sabemos onde estamos, quanto mais para
onde queremos ir.
Malas no hotel, siga aproveitar o pouco tempo
em Phnom Penh. E aqui tivemos a surpresa da viagem, com a distinção de cidade
da Indochina com a melhor organização e oferta de espaços mais agradáveis,
simplesmente para o ato de “estar”. E as ruas são largas, os passeios não estão
atulhados e a zona na margem do rio é super animada, com bares, restaurantes,
pessoas a passear, meninos na esplanada a jogar à bola (e um jogo do género da
peteca, mas com os pés, que o Daniel ainda experimentou mas sem sucesso).
Vive-se bem em Phnom Penh.
Pelo menos nesta zona, porque, começando a
afastar do rio, a coisa já se volta a parecer com os países vizinhos. Apesar
disso, cozinha-se menos na rua, há menos refeições (noodles, noodles,
noodles...), menos banquinhos. Cambodja, filho, onde foste tu buscar
influências para seres tão diferente?
Nessa primeira noite, visitámos o Wat Phnom,
o templo mascote da cidade, e demos por nós numa espécie de Mercado do Peixe.
De todas as iguarias que vimos, o Daniel não vai esquecer as rãs...vivas, sem
pele e sem cabeça. Quem é que disse que vinha para terras asiáticas comer sapo
gigante? Se calhar uma esparguete à bolonhesa não será má ideia, não é?
Já para mim, o melhor momento do dia foi
quando ele disse que no dia seguinte não tínhamos que nos levantar tão cedo.
“Mas põe o despertador na mesma para não dormirmos demais”. Ponho, ponho. Estás
certinho.
Foi a melhor coisinha que podíamos ter feito:
dormir até mais tarde. Já mais recompostos, dispusemo-nos a enfrentar o calor
(muito mais suportável que nos destinos anteriores. Graças!) e fomos à
descoberta de Phnom Penh à luz do dia. E nada mudou: a cidade é bonita, sim.
Na verdade, e faço aqui um parágrafo, a única
coisa que pende para o negativo é a quantidade de estrangeiros cinquentões que
por aqui passeia (é o único verbo que vou usar no blogue, todos os outros ficam
à imaginação de cada um) com miúdas de 15 anos. Eu até tenho uma mente aberta,
mas vê-las sair do quarto de hotel pela manhã... Nada contra acompanhantes e
cenas lindas de amor. Mas...tão miúdas? Tão pouco vestidas? À descarada? Ai as
modernices, Cláudia...
Bom, em frente. Passámos a manhã de sol por
entre a margem do rio e os templos e fomos barrados à entrada do Museu Nacional
e do Palácio Real. Olha que lindo, tudo fechado. Tem algum jeito?
Sem alternativa, e (con)vencidos por um tuk
tuk (já não os aturo), fomos visitar os Killing Fields, os campos onde o Khmer
Rouge de Pol Pot matou milhares de “traidores” do seu reino de sonho.
A visita veio comprovar a minha teoria de que
grandes desastres e massacres têm sempre lugar nos sítios mais bonitos. No
campo que visitámos, o mais turístico, tudo é verde e sereno. Tanto que nos
deixámos absorver pelas histórias e descrições do guia áudio até à alma.
Inquietante.
No final da visita, o rapaz do tuk tuk ainda
nos queria levar a uma espécie de campo de tiro, onde podíamos aprender a disparar.
Sou só eu que acho que dar tiros é das últimas coisas que apetece depois de
passar por um killing field...?
De volta à cidade por um campo minado (a
estrada tem mil buracos, mas o motorista soube inventar outros mil...), lá nos
explicaram que o Palácio Real só fecha quando o rei faz anos. Literalmente.
Portanto, a malta junta-se ali por perto para o desporto lindo de alimentar as
pombas (o Rui Rio que vos veja!). Não têm milho? Isso não é desculpa porque não
faltam senhoras a vender pequenas porções em saquinhos. Tudo é comércio para
estes lados, acho bem.
Até ao final da tarde, enveredámos pelas
zonas menos bonitas de Phnom Penh, mais sujas, mais pobres, com mais confusão e
fomos ter ao mercado central que, cá de fora tinha todo o ar e cheiro de loja
dos chineses, e lá dentro não sabemos porque luz é uma coisa que não se gasta
nesta cidade (até aqui dentro nos vêm “oferecer” um tuk tuk? Daqui a bocado
bato em alguém...). Vale o cheiro das flores à saída para esquecer odores menos
agradáveis da rua.
Já de noite, e enquanto jantávamos, a bela da chuva e
trovoada vieram dar de si. É o ritual do põe e tira impermeáveis durante uma hora pelos senhores dos tuk tuk. Os
mesmos que permanecem de pé, colados às mesas dos restaurantes para, ao mínimo
arrastar de cadeiras... “Sir!”, “Tuk tuk?”. Deixe estar, nós gostamos de chuva.
Muito ObRiGaDo Carina e Joaquim...sempre pensei que ser um viajantureiro mas vendo as vossas viajenturas sinto me um principiante...
ResponderExcluirJoaquim, on ne se cannais pas, pas encora, mais tu es deja quelqu'un que m'inspire...
Mana, ve se segues o meu blog como siguo o teu...