sábado, 9 de novembro de 2013

Vila do Conde – Tanger – Assilah

Como prometido, e como as televisões e jornais andam a dizer, cá vamos nós a caminho da Guiné-Bissau. Para os mais distraídos, ou para quem só aqui chega agora, o Fim do Mundo à Direita (sinto-me um jogador de futebol, a falar na terceira pessoa) fez de novo as malas (ai malas...mochilas e ainda mais pesadas que da última vez) e juntou-se ao pessoal da Missão Dulombi para viajar em carrinhas até Dulombi, para levar comida, roupa, brinquedos, material de hospital e todo o tipo de ajuda à população de lá.

A bagagem leva, ainda, a fotografia premiada pelo World Press Photo, que o Daniel ali tirou na mesma missão, em 2012. É , por isso, uma viagem com um sentimento especial.

    Foto: Lisa Soares / Global Imagens

Bom, o propósito é muito lindo, mas nove dias de viagem por países como Marrocos, Mauritânia, Senegal e Guiné-Bissau são, já de si, a própria da aventura. Em vários sentidos: estradas, horas de viagem, calor, fronteiras, regras muito suis generis, condições de estadia que deixam a desejar e um grupo de 14 pessoas com perspetivas e resistências muito diferentes.

Histórias de viagens são o nosso forte. E começam logo à saída com um atraso de três horas causadas por...um bocado de ferrugem a lixar o circuito de água de uma das carrinhas. O Macgiver tinha resolvido isso em dois minutos, mas pronto.

Siga três carrinhas, mais 13 pessoas em direção a Campo Maior buscar o 14º. A 80/h que não dá para mais, temos tempo e pode ser que as fotos não fiquem tremidas. Felizmente, a sorte resolveu vir também e, imagine-se!, consegui dormir. Está a ir bem.

Pela manhã, lá chegámos o primeiro ponto assinalado no mapa: Tarifa, onde apanhámos o ferry para Marrocos. O árabe deve ser uma língua muito linda, mas responder-lhes com o belo do português do norte é marabilhoso.







Uns curtos 35 minutos até pisar o belo do continente africano e lidar com a atitude de mauzões dos senhores marroquinos na fronteira. Aqui, tudo o que for abaixo das três horas de espera para inspeção da carga é uma vitória. Entre o francês, o árabe e o sempre marabilhoso português do norte, conseguimos a fantástica marca de cerca de meia hora de conversa. Mais dez minutos com o árabe atrofiado a querer impingir-nos cenas maradas para snifar. Pois, álcool não pode ser que é pecado, mas essas coisas manhosas, tudo bem.



Pés em Marrocos, rumámos a Assilah, que engrossa o grupo daquelas cidades pequenas, bem arranjadinhas, que acolhem bem esta gente que passa tantas horas em viagem. Estacionámos num parque de campismo e fiquei para a minha vida quando o Daniel me diz “Vamos ficar no quarto com o Chico e o Vitor, ok?” Ein? Quarto? Daqueles com camas? E almofadas? Não sei se me preparei para tanto luxo. Maravilha!

Pousar tudo e vamos é comer. E aqui começa o dilema de nos fazermos entender verdadeiramente. É que conseguir que nos tragam uma coca-cola natural é o cabo dos trabalhos. Claro que chamar a malta à parte para negociar umas cervejas já é num instante, esquece lá o pecado, fazemos quilómetros para a ir buscar aos confins das clandestinidades. Ai, salamaleques...

Ao final da tarde, fomos dar um passeio pela praia e não faltaram campos de futebol para fotografar os craques. O Cristiano, esse, não falha nas camisolas, muito menos o sorriso e a resposta óbvia à palavra “Portugal”.










Assilah tem, ainda, uma pequena cidade dentro das muralhas de um forte, que tem muitas parecenças com a Vila de Óbidos e dá para um pequeno primeiro contacto com a arquitetura muçulmana e com a cultura desta gente que não se deixa fotografar nem por nada. Cheira-me que ainda vamos sair daqui com um olho negro. Isto na melhor das hipóteses.












Foi também aqui que vimos o primeiro pôr-do-sol africano, aquele momento que acaba com qualquer bateria ou espaço de telemóvel. Ok, Marrocos não é Àfrica, mas o sol deste lado do mundo é bem diferente do que já vimos. Mal o sol desapareceu, eis o gelo das noites por aqui. E eu que achava que trazer camisolas tão quentes ia ser um desperdício de espaço. Ca frio!








É frio, mas é preciso tomar banho que já são muitas horas com a mesma roupa. Água quente a sair às pingas, mas não há lugar a queixas. Tenho para mim que é do melhor que vamos encontrar e, na verdade, soube quase a jacuzzi. Nessa noite, o sono que fizemos foi a melhor coisa do mundo.

Está cumprida a primeira etapa e, quando a dor de cabeça do cansaço tiver ido à vida dela, estamos prontos para tudo o que aí vem.

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